terça-feira, 19 de abril de 2011

Poema de Amado Nervo

“Já bem perto do ocaso, eu te bendigo, ó Vida,
porque nunca me deste esperança mentida
nem trabalhos injustos, nem pena imerecida.

Porque vejo, ao final de tão rude jornada,
que a minha sorte foi por mim mesmo traçada;
que, se extraí os doces méis ou o fel das cousas,
foi porque as adocei ou as fiz amargosas:
quando plantei roseiras, eu colhi sempre rosas.

Decerto, aos meus ardores, vai suceder o inverno:
mas tu não me disseste que maio fosse eterno!

Longas  achei, confesso, minhas noites de penas;
mas não me prometeste noites boas, apenas,
e em troca tive algumas santamente serenas....

 Fui amado, afagou-me o sol.  Para que mais?
 Vida, nada me deves.  Vida, estamos em paz...”
  
                                                  Amado Nervo

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